Ser-se Winnicott

  • Do centro de investigação Winnicott Portugal

São raros e únicos os momentos em que se tem o privilégio de acompanhar a concretização de um sonho e participar na fundação de uma nova entidade criadora de reflexão, investigação e saber: o centro de investigação Winnicott-Portugal.

E ainda mais raro é vê-lo acontecer através da sua defensora e fundadora/sonhadora primordial Drª Rosário Belo com quem tive o privilégio de viver a experiência do encontro pelo cuidado.

  • Da sua origem e da minha expetativa

Neste encontro pelo cuidado analítico winnicottiano vivi a importância da experiência de continuidade….a continuidade do ambiente dentro e fora do setting terapêutico. Senti que é da vivência da coerência do tempo, do espaço e do ambiente que nasce e/ou se consolida a corporalidade-psíquica de um ser que existe e pode ocupar o seu lugar.

Senti-me existir (sem culpa) na dança entre continuidades e interrupções entre o que fui manifestando e o que fui recebendo – a cura pelo cuidado.

Uma forma de manejo e de sustentação que retira cada pessoa do lugar da culpa face às suas necessidades apresentando-as como impulsionadoras do gesto e do chamamento do outro. Uma forma atual e implicada (até ao osso) de fazer clínica.

É esta a expetativa profunda e futura: que o surgimento deste centro de investigação impulsione e legitime cada terapeuta e cada paciente a agir pela implicação e pelo cuidado. Que se possa abrir uma nova esperança na clínica ao voltar-se para a contemporaneidade de cada ser.

  • Da sua fundação ao contexto da atualidade

Não poderia haver momento mais oportuno e atual para o surgimento do centro de investigação Winnicott-Portugal: é imperativo erguerem-se vozes defensoras de uma ética do cuidado aliadas ao humanismo, à gentileza, ao acolhimento da vivência da dependência como força impulsionadora e à aceitação do sofrimento mental como pedido para a mudança.

Defender uma cidadania democrática tendo por base o ser concernido/ o ser que se implica e se coloca no lugar do outro.

É uma oportunidade para se ser winnicottiano como estilo de vida:

– ser-se winnicottiano é acolher cada ser no seu pedido e existência paradoxais;

– ser-se winnicottiano é escolher a vida cuidando da solidão e da unicidade de cada ser;

– ser-se winnicottiano é estar-se grato pela vida porque é na Vida (e da Vida) que surge a possibilidade da verdadeira experiência do gesto espontâneo.

Rita Pereira Marques

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