Artigos

two men sitting on road

Matateu

Há mais de meio século, na Amadora, subúrbio de Lisboa, viveu o Matateu. O Matateu era um “Bêbedo”, um “Pedinte”, um “Maluco”. Ainda não tinham sido inventados os “sem-abrigo”. E, a bem dizer, o Matateu tinha um abrigo, numa casa abandonada. Partilhava a casa com cinco ou seis cães. Dormiam juntos, no meio de um enorme monte de papeis e cartões, juntos. Saiam juntos deambulavam juntos. Partilhavam a comida que conseguiam. Algumas senhoras da vizinhança, “malucas dos gatos”, davam de comer aos gatos, aos cães, ao Matateu. Chegava para todos. Tinha que chegar. Eram uma Matilha e a Matilha sobrevive…

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girl in gray long sleeve shirt smiling with her grandparents

Um olhar Winnicottiano sobre o tempo da criança na intervenção judicial

Neste tempo em que comemoramos o 33º aniversário, da Convenção dos Direitos da Criança, faz-me sentido reforçar que o tempo das crianças não se assemelha nem se compadece com o tempo dos seus cuidadores. Nesta sequência, destaco a importância do tempo de relação como construto da saúde mental e reforço a importância do tempo psicológico e do tempo real como promotores do desenvolvimento da criança, existindo inevitavelmente, uma relação entre o Tempo, o Ser e o Estar. Na intervenção judicial, em matéria da promoção e proteção dos direitos da criança, às equipas de Assessoria Técnica aos Tribunais, são diariamente solicitadas…

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photo of red and blue zippers

Pequena nota sobre a Inveja do Pénis

Muito se tem falado sobre a chamada inveja do pénis, tema tão caro a Freud. A meu ver há uma diferença entre uma inveja do pénis que poderíamos considerar “normal” na integração da diferença – decorrente do processo de desilusão e do consequente reconhecimento de que não somos omnipotentes. Esta “inveja” estaria presente sobretudo na chamada fase fálica – com correspondência para o que poderíamos chamar inveja da vagina nos rapazes (inveja da capacidade de engravidar e gerar vida) – ambas referentes ao facto de nos percebermos incompletos e de reconhecermos na diferença o que nos falta; que remeteria, na…

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Somos cláusulas perdidas na imensidão da repetição da agonia ou somos seres que lutam pela conquista do seu nome próprio?

Como a conquista do ser passa pela transformação da clausula familiar atribuída à revelia da vontade. Somos cláusulas perdidas na imensidão da repetição da agonia ou somos seres que lutam pela conquista do seu nome próprio? Somos os papeis que cumprimos ou somos de verdade quando, acima do cumprimento desses papeis, fazemos nascer o nosso ambiente e o nosso ser? Como distinguir entre o ambiente que nos habita e o novo ambiente, aquele que nos move para um lugar diferente? Como existir em plenitude quando os ambientes se sobrepõem na sua caducidade e originalidade? Onde é que o nosso nome…

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person holding camera lens

Desde o “Tocar no Ponto” até ao “Touchpoint”

(João Manuel Rosado de Miranda Justo, Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, Junho de 2022)             Estávamos no ano letivo de 1981/1982 e decorria o último ano da Licenciatura em Psicologia. Nesse final de curso, para os alunos da Psicologia Clínica (Ramo B, como naquela altura de dizia), acontecia uma cadeira designada “Consulta Psicológica da Criança e do Adolescente”. Nessa cadeira, a já falecida Professora Maria Rita Mendes Leal fazia questão de trazer até nós os autores psicodinâmicos que afinaram a pontaria da psicanálise na direção da criança, do desenvolvimento infantil e, entre outras coisas, na direção da psicoterapia…

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person in black jacket standing on snow covered ground in between bare trees during daytime

Ser-se Winnicott, mais do que uma escolha, um sentido de vida

Corria o ano de 1957 e Winnicott apresentava, numa reunião da Sociedade Britânica de Psicanálise, um dos artigos que mais marcou o meu percurso como psicanalista: “A capacidade de estar só”. O outro, escrito doze anos mais tarde, foi “O uso de um objeto e relacionamento através de identificações”, publicado em O brincar e a realidade, mas lido também na Sociedade Britânica de Psicanálise, em 1969. O primeiro fala da capacidade mais nobre da arte de quem pratica a cura pelo cuidado: a capacidade de estar só na presença do outro; que significa, a meu ver, a capacidade de se…

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woman in white dress sitting on ground under tree during night time

Nota breve sobre a ligação ao projecto “Winnicott-Portugal”

Tomei contacto com o projecto “Winnicott-Portugal” através de Maria do Rosário Belo, minha colega investigadora do PRAXIS – Centro de Filosofia, Política e Cultura, e a quem devo o generoso convite para tomar parte na iniciativa. Também a Prof.ª Irene Borges Duarte, a partir desse mesmo enquadramento institucional, e na sequência de um já longo acompanhamento do percurso de investigação em filosofia que tenho vindo a realizar, chamou, logo depois, a minha atenção para a novidade e a importância deste projecto no contexto da psicanálise em Portugal. A minha primeira expectativa é a de que esta plataforma cumpra o propósito…

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three boys walking between buildings at daytime

Winnicott – Portugal, é trazer Donald Winnicott para a nossa casa, para a nossa vizinhança!

Ter encontrado Winnicott no meu percurso profissional, foi uma das maiores satisfações no meu trabalho, ter a possibilidade de abraçar uma clínica que privilegia o manejo, o atendimento da necessidade em detrimento de uma interpretação maciça, conseguir chegar mais próxima do paciente, alongar a confiabilidade. Após anos de estudo das obras de Donald Winnicott no IBPW (Instituto Brasileiro de Psicanálise Winnicottiana) de São Paulo, onde tive a sorte de encontrar profissionais tão preciosos e capacitados para aprofundar e difundir os trabalhos do autor, profissionais que me ajudaram imenso e aos quais sou muito grata! Porém, sempre senti uma enorme solidão…

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white and blue ceramic floor tiles

Se a arte cura, a psicanálise é também uma arte, a arte de cuidar.

Tive a sorte e o privilégio de conhecer Donald Woods Winnicott através da Maria do Rosário Belo. Sorte porque não podia ter melhor orientadora, quer pelo seu vasto conhecimento da vida e obra do pensador, quer pela dedicação e entusiasmo com que se entrega ao estudo e divulgação dos seus conceitos e da sua psicanálise. O privilégio foi o de conhecer a própria Maria do Rosário e a sua personalidade cuidadora, dedicada ao seu meritório e imprescindível métier, sempre incansável atendendo às necessidades, quer de pacientes, quer de colegas ou de formandos. Mas também a sua dedicação incondicional à causa…

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girl watering tree

O cuidado que Winnicott nos “ensinou” e “legitimou”

É muito gratificante e um grande orgulho fazer parte do grupo de colaboradores Winnicott- Portugal, por se tratar dum veículo de divulgação do seu pensamento e da sua perspetiva na clínica, que me é tão cara. Na perspetiva Winnicottiana do desenvolvimento humano senti-me, desde sempre, compreendida, acolhida e significativamente identificada com a possibilidade de retomada do desenvolvimento com base na relação interpessoal, nomeadamente na interação paciente-analista, sendo este último, ele mesmo (si próprio), e propiciador do ambiente suficiente bom, potenciador do desenvolvimento saudável (interrompido).   Nesta jornada profissional, é para mim de um valor superlativo, poder retribuir àqueles que generosamente…

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girl making bubbles during daytime

Regressar ao brincar de “O Brincar e a Realidade”

Foi na livraria da D. Lina, à entrada do ISPA (aquele ISPA dos anos 90) que comprei o meu primeiro livro de Winnicott: “O Brincar e a Realidade”. Daí para a frente, Winnicott acompanhou-me sempre, fui comprando os seus livros e, naquela altura, servia-me de colo entre as leituras de tantos outros autores da psicanálise que fui lendo ao longo do curso. Digamos que entrei na obra de Winnicott como um bebé que vem ao mundo: de forma subjectiva. Lê-lo era um descanso. Ele facilitava-me a entrada no mundo da psicanálise. De forma simples, real e autêntica, Winnicott acolhia-me num…

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silhouette of people

Projecto Winnicott-Portugal

Em tempos li em algum lugar que o importante não é o destino nem o caminho, é a companhia. Todos sabemos que o caminho se faz caminhando, contudo, penso que são aqueles que vamos encontrando ao longo do percurso que fazem com que este tenha sentido. Tenho tido a honra e o prazer de viver a experiência de, espontaneamente, me cruzar com aqueles cujos interesses se assemelham aos meus e que por vezes caminham comigo, por vezes lhes sigo eu os passos, por vezes paro/paramos para contemplar a paisagem e disfrutar do vislumbre de uma nova etapa. Talvez seja esta…

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close-up photography of wet glass

Winnicott-Portugal: Uma janela para o futuro

Um novo projecto. Um novo desafio. Uma nova etapa. Há ideias que transformam as nossas convicções. Há pensadores que mudam as nossas vidas. No meu caso particular, Donald Winnicott conseguiu realizar com sucesso ambos os singulares desafios. Encontrei em Winnicott e no pensamento winnicottiano a tão procurada e almejada ponte conciliadora que me permitiu harmonizar – sobretudo do ponto de vista ontológico – a psicanálise com um conjunto de ideias, conceitos e teorias filosóficas que, para mim, muito significavam, e que em muito divergiam da teoria freudiana primordial. Neste sentido, pessoalmente, falar em Winnicott é necessariamente falar de um admirável…

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black framed glass window with heart draw

Escrever com o coração

“Escrever com o coração”. Arranjas-me cá com cada escalada. Pronto. Um gajo chega ali e começa a escrever o que lhe vem à cabeça. E, à cabeça, não vem nada. Bolas. Qualquer coisa… Nada. Bom, podia escrever isto. Nãã. Ou aquilo… Nãã… Graças a um dos meus professores de Filosofia, no secundário, li, pela primeira vez W. Reich. Lá por casa, havia a “Psicopatologia da vida quotidiana” e os “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”. Assim, descobri o fascínio do pensamento psicanalítico. Fascinante, pela sua liberdade, pelasua ousadia, pelo seu método. Um género de ciência, sem tubos de ensaio.…

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babys hand on human palm

Reconhecer a Singeleza do Humano, Para Crescer Suficientemente Bem

Nasce hoje, pela mão da Rosário Belo, um projeto que, em si, tudo contém para ser inovador no panorama português. Quando a Rosário me apresentou a sua ideia, deu como mote a criação de um grupo de livre pensamento e dinâmico assente nas perspetivas de Winnicott. Enfatizou a liberdade de criar, a vontade de dinamizar a comunidade científica (e não só) com o diálogo entre vários autores e Winnicott. Tal liberdade/responsabilidade e entusiasmo/capacidade de trabalho são características próprias da Rosário e que contagiam quem com ela tem o privilégio de trabalhar. Com estas palavras, a Rosário despertou o meu sonho/projecto…

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Comentário ao projecto Winnicott-Portugal

Sempre me interessei pelo pensamento de Winnicott, talvez pelo facto de ter começado a minha prática clínica com crianças integradas em contextos institucionais, privadas de um ambiente contentor, integrador e suficientemente afetivo na sua sustentabilidade. As experiências de privação motivaram-me a mergulhar em leituras sobre a importância das primeiras relações e o impacto destas na construção psicossomática do Ser Humano. Debato-me com alguns dos conceitos de Winnicott e surgem os primeiros rasgos de um enamoramento pela obra. No decorrer da minha formação psicanalítica, num seminário lecionado pela Maria do Rosário Belo, na AP, contacto com mais profundidade com o autor…

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worms eye view of spiral stained glass decors through the roof

Grupo Winnicott em Portugal é oportuno e importante

A iniciativa de criar um Grupo Winnicott em Portugal foi oportuna e importante. Uma formação complementar, por essa via, era a meta imediata. Mas a possibilidade de um intercâmbio, com toda a sua riqueza interactiva, é o complemento incontornável deste plano a longo prazo. É fundamental ter encontrado alguém capaz da iniciativa e da dinamização do grupo. Estamos de parabéns todos e todas, graças à Maria do Rosário Belo, que criou a possibilidade com a sua capacidade de intervenção, a nível nacional e internacional, mas também graças à Joana Espírito Santo, ao José Carlos Coelho Rosa, de deram e dão…

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crop faceless woman planting seedling into soil

Ser-se Winnicott

Do centro de investigação Winnicott Portugal São raros e únicos os momentos em que se tem o privilégio de acompanhar a concretização de um sonho e participar na fundação de uma nova entidade criadora de reflexão, investigação e saber: o centro de investigação Winnicott-Portugal. E ainda mais raro é vê-lo acontecer através da sua defensora e fundadora/sonhadora primordial Drª Rosário Belo com quem tive o privilégio de viver a experiência do encontro pelo cuidado. Da sua origem e da minha expetativa Neste encontro pelo cuidado analítico winnicottiano vivi a importância da experiência de continuidade….a continuidade do ambiente dentro e fora…

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red haired woman in dark room

A minha viagem ao mundo de Winnicott…

Mergulhar na obra de Winnicott foi inicialmente complexo, denso e por vezes frustrante, particularmente para quem estava afastada da linguagem psicanalítica há uns anos. Aos poucos, a linguagem winnicottiana, particularmente os afetos que abraçam o seu pensamento e por consequência, a sua obra, foram-se entranhando, encaixando e fazendo cada vez mais sentido no meu trabalho e pensamento clínico. É o ambiente externo facilitador, presente na obra de Winnicott, que tem vindo a facilitar a minha tarefa de amadurecimento enquanto terapeuta. O processo de integração dos diferentes aspetos da sua obra, vai sendo possível na presença do ambiente externo facilitador que…

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bird-nest-eggs-blue-158734.jpeg

Nasceu Winnicott-Portugal

Não há muito tempo, numa passagem por Florença, olhei para o chão e deparei-me com a seguinte mensagem gravada numa pedra: “Tutti i passi che ho fatto nella mia vita mi hanno portato qui, ora.”. Fez-me pensar, que em tantas alturas da nossa vida, devemos pensar como chegamos a determinados lugares, dentro e fora de nós. Lembrei-me desse momento porque, pessoal e profissionalmente, tenho olhado para o meu percurso, sentindo verdadeiramente que a vida me tem trazido belíssimos encontros, que me têm permitido crescer e, espero eu, ajudar a crescer. Presentemente, os meus passos trouxeram-me ao encontro de um novo…

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