“Escrever com o coração”. Arranjas-me cá com cada escalada. Pronto. Um gajo chega ali e começa a escrever o que lhe vem à cabeça. E, à cabeça, não vem nada. Bolas. Qualquer coisa… Nada. Bom, podia escrever isto. Nãã. Ou aquilo… Nãã…
Graças a um dos meus professores de Filosofia, no secundário, li, pela primeira vez W. Reich. Lá por casa, havia a “Psicopatologia da vida quotidiana” e os “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”.
Assim, descobri o fascínio do pensamento psicanalítico. Fascinante, pela sua liberdade, pela
sua ousadia, pelo seu método. Um género de ciência, sem tubos de ensaio.
Ao longo do percurso, muitas vezes, tropecei na desilusão – afinal o pensamento psicanalítico não é livre, afinal há dogma, há impensável, há repetição (catequese). Para depois perceber que nem todas as pessoas pensam assim – admitindo que as anteriores, sequer, pensam.
O passo seguinte foi perceber que nem todos os autores nos fazem sentido e que cabe a cada um de nós encontrar as fontes onde quer beber e formar-se, a partir daí.
Mas, ler, estudar, reflectir, são, por si, actividades solitárias que conduzem ao delírio, com boa probabilidade. A partilha, entre pares, e saliento “pares”, é a única forma de aferirmos a nossa reflexão.
Também a forma de incorporarmos novos “genes” ao nosso pensamento, para que possa germinar e ser fecundo.
Por último, em minha opinião, na nossa terra, há muito poucos “pares” capazes de uma discussão, na área da psicanálise, mas não só, frutuosa, criativa, fecunda. Acredito seriamente que, tu Rosário, és uma delas. E que és capaz de lançar a semente para um projecto fértil, criativo, verdadeiramente psicanalítico. Por mim, quero participar. Quero ajudar.
Reprimi, reprimi, reprimi. Agora: – Coração! Cala-te. Já chega. Não vez que já encheste uma página inteira? Shhh!… Pronto, já chega.