Newsletter – 2024.07

CIWP

Associação Winnicottiana Portuguesa – Centro de Investigação

Saúde mental não se distingue de saúde geral

Newsletter Julho 2024

 

Introdução

Sejam bem-vindos ao segundo número da newsletter da Associação Winnicottiana Portuguesa. Este mês destacamos a abertura das inscrições no nosso curso de especialização Winnicottiana. O curso dirige-se a todos os profissionais que lidam com problemáticas humanas, sendo a parte clínica reservada apenas a clínicos. Aconselhamos a quem estiver interessado, a começar pelo início: ano zero; pois embora seja um ano introdutório, é um ano de grande relevância, não só para a continuidade do curso, mas também porque oferece noções básicas de psiquiatria, fundamentais para quem articula trabalho com colegas psiquiatras. Deixamo-vos o convite e o link de inscrição:
https://bit.ly/ciwpcursos

Juntem-se a nós e divulguem! Acreditamos que é mesmo muito importante que os princípios Winnicottianos cheguem ao maior número possível de pessoas.

Maria do Rosário Belo, pela equipa Winnicott Portugal

Recomendação de Leitura

Este mês, como forma de assinalar o nascimento de Masud Khan, a 21 de julho de 1924, recomendamos a introdução que ele fez ao livro de Winnicott “Da Pediatria à Psicanálise. Obras escolhidas”, pois além de extremamente bem escrito, como era próprio do autor (que também foi editor de Winnicott), é uma belíssima introdução ao pensamento de Winnicott. É numa boa forma de iniciar o estudo aprofundado do autor.

Maria do Rosário Belo

Curiosidades e Reflexão do Mês

114 anos após o Congresso de Nuremberg, realizado entre 30 de julho e 1º de agosto de 1910, marco significativo na história da psicanálise durante o qual Freud fundou a Associação Psicanalítica Internacional (IPA), aqui estamos nós a divulgar uma psicanálise que integra o seu percurso histórico mas que amplia o seu horizonte de forma impensável neste início. A nossa história mostra-nos que a evolução do pensamento psicanalítico parte da clínica e dos problemas colocados pelo sofrimento humano. Já assim foi em Freud e assim continua a ser em Winnicott e em todas as Associações, como a nossa, que integram a IWA (International Winnicott Association). Fundada 103 anos depois da IPA, em maio de 2013, a IWA congrega os diferentes grupos que pensam e desenvolvem a sua prática a partir do legado de Winnicott e mostra-nos que a liberdade pode e deve coincidir com o rigor.
Sem rigor não há pensamento científico e sem isso não há evolução. Por isso, consideramos importante que seja firme o estudo do legado deixado pelo autor escolhido (no nosso caso Winnicott), para que seja possível então, a liberdade de pensamento a partir da clínica; um pouco como a música, o bom Jazz requere o estudo aprofundado da música clássica…

Maria do Rosário Belo

Anúncios

Abertura das inscrições para o curso de especialização Winnicottiana. Siga o link e não perca a sua inscrição até 9 de setembro:

Após a realização da segunda edição da iniciativa WinniMatinèes, a Associação Winnicottiana Portuguesa decidiu abrir a participação a qualquer pessoa que se interesse por cinema. A entrada é gratuita, sendo o principal objetivo a visualização de filmes e posterior debate. Não percam os próximos eventos, fiquem atentos ao nosso site e às nossas redes sociais:

Website * Instagram * Facebook * Linkedin

Rubricas Culturais

Procissão: Louvar e Santificar do projeto Manicómio no MAAT 02/05 a 26/08/2024
https://maat.pt/pt/event/procissao-louvar-e-santificar

Untitled, 2024 Anabela Soares

Ambiente que agrega e une todo o espaço expositivo:


“Tocam os sinos na torre da igreja
Há rosmaninho e alecrim pelo chão
Na nossa aldeia, que Deus a proteja!
Vai passando a procissão (…)
Pelas janelas, as mães e as filhas
As colchas ricas, formando troféu
E os lindos rostos, por trás das mantilhas
Parecem anjos que vieram do céu!”


A entrada para a Procissão é anunciada por uma parede em rosa pink, o mesmo rosa das saias de frufru das meninas pequeninas que ainda não mataram Deus? e abre com as orações de Joana Ramalho bordadas em pele sintética “Venha a Nós o Vosso Reino”.
Entramos na experiência, para a experiência.
O cortejo começa:
É evidente que testemunhamos um momento de força e, por isso, uma experiência espiritual? Deambulamos no espaço expositivo e ouvimos repetidamente “Tocam os Sinos na torre da igreja” …sabemos que, quem canta, é a presença humana de um grito engravatado de Filipe Cerqueira, qual João Vilaret.
Os testemunhos que louvam a sua Verdade e condição de Ser com a frontalidade única da expressão artística e da arte contemporânea.
Não é a loucura que interessa, é a Verdade.
“ Eu sinto dor, fizeram de mim Monstro” foi gravado, pelos bordados de Anabela Soares, em grandes estandartes azul marinho (cor do céu nos dias mais profundos de verão?) suportados por traves em cruz com pés de cimento. Olhamos de baixo para cima para os Monstros bordados a ouro, preciosos, para o que virá a seguir.
Próximo, amarelo e em movimento, está o carrossel impossível de Cláudia R. Sampaio onde os cavalinhos foram substituídos por pinturas em movimento e plantas artificiais que impedem o salto lá para dentro….já se perdeu o carrossel…está em movimento perpétuo e sem luz…a interrupção foi para sempre.
Continuamos, embalados neste cerimonial, pelo som “ Pelas janelas, as mães e as filhas, As colchas ricas, formando troféu” e encontramos estendido, poderoso, em direção ao céu, o sudário de Micaela Fikoff onde a cara d´Ele não são mais do que bordados de um corpo
em chagas em lençóis do Hospital Júlio de Matos.
Aqui somos seres pequenos perante a omnipresença do sofrimento e a única possibilidade é continuar e aceitar que, para o alcance do verdadeiro Self, é inevitável o caminho de transformação viva que encontramos finalmente na corrida agitada do vídeo de Pedro Ventura “Correr Ceca e Meca”
Prossigamos a Procissão
Louvada seja a Arte e qu´Ele permita a todos a mesma Verdade.
Em todo o caso, já não há outra possibilidade.

Rita Pereira Marques

 

Filme Divertida-mente 2 de Kelsey Mann

Estreou o Divertida-mente 2, o filme de animação que nos leva a visitar o que se passa na vida emocional de uma iniciante na adolescência, numa viagem que se torna uma verdadeira montanha russa de emoções para quem o vê.

Aos 13 anos a personagem principal, Riley, entra na puberdade e esta nova etapa traz consigo muita turbulência e novas emoções. 

No primeiro filme Divertidamente ficámos a conhecer a alegria, a tristeza, a repulsa e o medo, mas neste novo filme, estas emoções terão que dar espaço a companhia desestabilizadora. Surge a ansiedade, uma ágil controladora que rapidamente se apodera do ambiente interno da Riley, tentando ocultar o passado, prevendo inúmeros futuros e assim, dando cabo do presente. Traz consigo a tímida vergonha, o tédio e a inveja. O painel de controlo é assaltado e a confusão instala-se.

Não querendo adiantar mais, para não retirar a quem não viu o filme, o gozo de uma viagem maravilhosa, posso só revelar que a importância do grupo de amigos e de aceitação por parte dos mesmos leva muitas vezes um adolescente a deixar para trás vivências e laços que são na verdade alicerces. O medo da rejeição, de não estar à altura do outro idolatrado seduzem a emergência de um falso self demasiado adaptado ao outro. Instala-se a crise identitária e o resto é desmoronamento e destrutividade, inevitavelmente necessários para a construção de um novo mundo a partir de um Eu que tem que se reerguer e descobrir quem é. A tristeza mantem um papel essencial, tal como no primeiro divertidamente, lembrando-nos que ser capaz de entristecer é organizador e revelador da verdade.

Adolescer é difícil, é turbulento como dizia Winnicott, mas é necessário.

O reencontro com a estabilidade? É possível sempre que o ambiente aguenta esta tempestade emocional. A bússola desnorteia-se, mas norte e sul estão sempre lá e a dada altura é possível recuperar a orientação. Mas não demais. Um pouco de adolescência será sempre importante nas nossas vidas.

Espreitem o trailer e não percam esta visita à explosão adolescente.

Helena Mourão

Actualidade

 

 

A diferenciação e a conquista de uma identidade pessoal é parte essencial do amadurecimento. Dessa identidade, que se constrói subjetivamente e que se relaciona e revela também objetivamente, há uma riqueza que só é possível na individualidade e nas particularidades da experiência pessoal de cada um, experiência essa que tem que ser sentida como real, ou seja, vivida a partir do si mesmo. 

Nos dias de hoje, surge como assustadoramente regular, a construção de identidades que na verdade não o são. Sobejam construções que partem de fora para dentro, bombardeadas e conduzidas por ideais inalcançáveis e muitas vezes, buscas incessantes por ideais físicos que apagam as singularidades de um corpo com história. Estaremos numa busca sôfrega pela perfeição, pela beleza eterna, tipificada, pelo não envelhecimento? 

Amadurecer não passa também por uma aceitação da transformação interna e externa, com todas as suas variações, ainda que abraçada por cuidado e manutenção da saúde? 

Já Winnicott dizia, em “O Brincar e a Realidade” (1971), que “perfeitas são as máquinas”. 
Helena Mourão

(Imagem: Salvador Dali, 1943, “Geopolitical Child Watching The Birth Of The New Man”

 

Testemunhos

Testemunho sobre a fundação da Associação Winnicottiana Portuguesa – Centro de Investigação – Desafios e Vontades

Fundar, gerar e fazer crescer uma Associação é uma tarefa de uma envergadura cuja dimensão só nos damos conta depois de estarmos no barco. Procurar as condições ótimas para o amadurecimento deste bébe, que é a Associação Winnicottiana Portuguesa, significa procurar as condições ótimas para a construção e fortalecimento de uma identidade atual, criativa, sólida, humanista, de livre pensamento e investigação do pensamento do Winnicott. 

Para mim, um dos maiores e mais marcantes desafios tem sido o fato de que uma Associação que se quer progressiva, verdadeira, em constante atualização e não dogmática necessita de ter uma equipa coesa, solidária, criativa, exigente e de espírito de interajuda. Concerteza que isto significa que cada elemento pode e deve encontrar o seu lugar preservando e investindo o mais possível na homeostase do restante grupo. Tem sido muito gratificante e de grande revelação não só conhecer a fundo os colegas e companheiros de caminhada mas também perceber como me posso integrar e alinhar com diferentes métodos, decisões, formas de ser e de fazer. 

Tem sido uma caminhada de grande intensidade e aprendizagem e também de algumas surpresas. Afinal, provavelmente todos os processos de criação pressupõem um eterno ajuste entre as expectativas mais subjetivas daquilo que se imagina criar e a realidade do que é realmente possível ou viável. 

Neste momento atual percebo que a caminhada terá de passar pelo processo natural de amadurecimento e tudo o que isso comporta. 

Estou muito grata por poder fazer parte deste caminho e por toda a aceitação, dedicação e investimento de toda a equipa da Associação Winnicottiana Portuguesa- Centro de Investigação. E não se esqueçam companheiros (como me disse alguém de grande importância na minha vida): a sorte protege os audazes, em frente camaradas!

Rita Pereira Marques

 

Testemunho Sobre a Formação

A Formação de Especialização no Pensamento de D. Winnicott tem sido, para mim, uma experiência muito enriquecedora. Desde a primeira aula que as reflexões de Winnicott têm tido impacto na minha prática clínica e em mim mesma. À semelhança da aparente simplicidade das palavras de Winnicott nas suas obras, também encontro neste curso formadores com uma linguagem clara, próxima, dedicados e entusiasmados pela partilha e peloaprofundamento conceitos winnicottianos.

A formação é dada com tempo e de forma criativa para que consigamos assimilar os paradoxos e a complexidade da visão de Winnicott, que se vai desvelando à medida que melhor o vamos compreendendo. Sinto que os formadores se esforçam por nos dar uma boa compreensão dos conceitos, recorrendo a várias estratégias, inclusive livros, filmes e sugestões artísticas. Sempre num ambiente de proximidade, de afetividade e de partilha de ideias, sem preconceitos, sem egos, sem ideias menores ou palermas. Um ambiente em que, por isso mesmo, que me tenho sentido crescer “suficientemente bem”!

O facto de estar dividida em parte teórica e clínica ao longo dos 3 anos, esta formação permite-nos ir amadurecendo no pensamento winnicottiano ao mesmo tempo que vamos compreendendo os conceitos na prática clínica de cada um dos formandos. Esta articulação é, no meu entender, uma marca distintiva desta formação.

Recomendo!

Catarina Rodrigues 

 

 


Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.