ASSOCIAÇÃO WINNICOTTIANA PORTUGUESA – CENTRO DE INVESTIGAÇÃO
AS RAÍZES E A HISTÓRIA MAIS RECENTE

 

Nas publicações da Revista Portuguesa de Psicanálise, revista da SPP (Sociedade Portuguesa de Psicanálise) Winnicott é citado desde o 1º número (1985), sobretudo por psicanalistas que trabalhavam com crianças. Contudo, os conceitos do autor britânico eram lidos á luz do paradigma freudiano.

A partir dos anos 90 dá-se em Portugal um crescente interesse pela observação de bebés e pela primeira infância. Surge uma noção mais real do bebé, da criança e do seu desenvolvimento em ambiente natural. A influência de Winnicott foi transformando a prática da clínica com crianças, adolescentes e adultos, ainda na senda do pulsional para o relacional, mas com uma atenção crescente ao ambiente, sobretudo no trabalho com crianças – trazendo a família, a escola e a assistência social para o centro da intervenção terapêutica (Joana Espírito Santo e José Carlos Coelho Rosa).

O estudo aprofundado do pensamento de Winnicott surge, no entanto, pela mão de Maria do Rosário Belo, ainda no contexto da sua formação na SPP e a partir da sua clínica com pacientes psicóticos; nomeadamente a partir da sua perceção sobre a importância do manejo clínico (mais do que da interpretação) no trabalho com estes pacientes. A nova abordagem a partir da clínica com psicóticos, neste início suportada pela supervisão com António Coimbra de Matos – que embora não fosse um psicanalista winnicottiano, norteava o seu pensamento pelos autores do middle group -, foi progressivamente alargada à sua clínica psicanalítica em geral. Ao mesmo tempo a psicanalista dedicava-se ao estudo intensivo e autodidata da obra de Winnicott.

Concluída a sua formação como psicanalista na SPP, Maria do Rosário Belo, funda, juntamente com Coimbra de Matos, Carlos Amaral Dias, José Carlos Coelho Rosa, Conceição Almeida, Mário Horta, entre outros colegas, uma nova Associação para a formação de psicanalistas e psicoterapeutas: a AP (Associação Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica), onde passa a lecionar e a ser responsável por todos os seminários sobre o pensamento de Winnicott. É nesta altura que começa mais ativamente a dinamizar os primeiros grupos de trabalho sobre o pensamento do autor..

Concomitantemente, na primeira década de 2000 Irene Borges Duarte, Professora Associada de Filosofia na Universidade de Évora e Membro Correspondente da AP, conhece Zelico Loparic e a sua mulher, Elsa Oliveira Dias num Congresso de Fenomenologia, em Lisboa. Na sequência deste encontro, propõe a Maria do Rosário Belo, então Membro Didata da AP e já reconhecida como estudiosa do pensamento de Winnicott, a realização de contactos com estes dois investigadores brasileiros que tinham fundado o IBPW (Instituto Brasileiro de Psicanálise Winnicottiana) em São Paulo, no Brasil.

Na continuidade destes contactos, Maria do Rosário Belo organiza o Iº Encontro Luso-Brasileiro sobre o Pensamento de Winnicott, em Lisboa, em Fevereiro de 2013 e inicia a sua formação em psicanálise winnicottiana em São Paulo (no Instituto Brasileiro de Psicanálise Winnicottiana).

Daí em diante, a colaboração deste grupo brasileiro com a AP, através da Maria do Rosário Belo, intensifica-se, levando á criação do primeiro Grupo de Estudos sobre o pensamento de Winnicott (GEW) em Portugal, em 2015, onde colaboram vários formadores da AP a convite de Maria do Rosário Belo: António Coimbra de Matos, José Carlos Coelho Rosa, Joana Espírito Santo, Mário Horta, Conceição Almeida, Cristina Nunes, entre outros.

Este Grupo de Estudos foi o ponto de partida para um primeiro curso anual especificamente dedicado ao pensamento de Winnicott, com a 1ª edição em Fevereiro de 2021. Neste primeiro curso, Maria do Rosário Belo integra como formadores, Irene Borges Duarte, José Carlos Coelho Rosa e Joana Espírito Santo.

No seguimento desta primeira experiência, um grupo de colegas (psicólogos e psicoterapeutas) – entre os quais Rita Pereira Marques, Cristina Cruz, Helena Mourão Bettencourt, Duarte Gatinho (e outros) –  decide continuar o estudo de Winnicott, solicitando a Maria do Rosário Belo, a constituição de um grupo de supervisão. Este foi o primeiro passo para a formação de uma estrutura mais organizada para o ensino e divulgação do pensamento de Winnicott. Nessa sequência, Maria do Rosário Belo cria o site Winnicott Portugal e convida este grupo de colegas a formarem um primeiro grupo de formadores, convidando também João Justo, Marli Ferreira, Joana Espírito Santo e Irene Borges Duarte. Forma-se um primeiro ano do que viria a ser o curso de especialização winnicottiana.

Em 2022 é organizado um 2º ano de formação e em Fevereiro de 2023 é oficialmente instituída a ASSOCIAÇÃO WINNICOTTIANA PORTUGUESA – CENTRO DE INVESTIGAÇÃO. À formação já existente é adicionado um Ano Zero, especialmente dedicado aos candidatos fora das áreas da Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica, que procuram uma especialização no pensamento e na clínica de Winnicott: médicos, enfermeiros, professores, advogados, fisioterapeutas, etc… A este ano zero junta-se a criação de um 3º ano de formação especializada e o corpo de formadores ganha a participação de Lia Nogueira, Catarina Rodrigues, Duarte Gatinho, Moisés Ferreira, Cristina Cruz, Alexandra Luz Clara e Tânia Ribeiro, entre outros contributos mais pontuais.

Em 2024 a Associação Winnicottiana Portuguesa – Centro de Investigação (CIWP) conta com 4 anos de formação: o Ano Zero dedicado a temas introdutórios da psicanálise e da saúde; o 1º Ano dedicado à Teoria do Amadurecimento e à clínica winnicottiana; o 2º ano, que traz um estudo comparativo entre Winnicott e autores da psicanálise, da filosofia e da pediatria e o 3º ano, que aborda o pensamento e a clínica de Winnicott para além das fronteiras da psicanálise.

Sempre procurando chegar a um maior número possível de profissionais dedicados as questões humanas e humanitárias, a Associação Winnicottiana Portuguesa continua em fase de expansão, atenta as novas possibilidades de ensino e divulgação do pensamento de Winnicott. Acreditamos que, com isso, podemos fazer a diferença na melhoria da intervenção nos diversos domínios da ação humana.