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As “Memórias de Schreber” e o corpo como inimigo: um olhar winnicottiano

Conferência Presencial e Online aberta, mas necessária inscrição.

Junho 24, 2023 @ 10:00 13:00 WEST

As “Memórias” de Schreber e o corpo como inimigo: um olhar winnicottiano

Dra. Caroline Vasconcelos Ribeiro (UESB/PPGMLS/IBPW/IWA)

A arte figurativa do pintor Francis Bacon retrata corpos e rostos distorcidos, por vezes deformados e agonizantes. Da figura humana ele acentua seus elementos grotescos, seja na solidão de um banheiro ou de um quarto qualquer, seja ao lado de uma carcaça e de vísceras animais. Com certa frequência o corpo deformado parece derreter, sair das contenções anatômicas e perseguir a si mesmo. Nesta palestra usaremos a arte figurativa deste pintor anglo-irlandês para pensarmos a experiência de corpo narrada por Daniel Paul Schreber em seu livro Memórias de um doente dos nervos. Num laudo médico-legal, emitido em 09 de dezembro de 1899, o Dr. Weber afirma que o Schreber – presidente, em afastamento, da Corte de Apelação de Dresden – fora transferido para o sanatório Sonnenstein no 29 de junho de 1894 e permanecera no local até a presente data. No início da internação, os sintomas destacados concerniam a ideias hipocondríacas, a exemplo da sensação de amolecimento cerebral, de desaparecimento do pulmão, de morte iminente e de estar sofrendo de peste. Posteriormente, ao quadro se acresceu ideias de perseguição atreladas a alucinações de que seu corpo era alvo de manipulações por raios divinos. O médico destaca que o paciente expressava a sensação de que seu corpo era manipulado por milagres divinos que dilaceravam seus órgãos – estômago, intestino, laringe –, e era penetrado por “nervos femininos” que lhe promoviam uma emasculação e o tornavam capaz de gerar novos homens, mediante fecundação direta de Deus. A leitura freudiana desta obra ancora-se na hipótese de que a causa ativadora do adoecimento de Schreber refere-se à afloração de uma fantasia feminina de desejo – entendida por ele como homossexual passiva – pela figura do médico Fleschsig. À resistência inconsciente em relação a esta fantasia seguiu-se uma luta defensiva que teria tomado a forma de delírio de perseguição. Ao invés de seguir o caminho erótico da análise freudiana, com esta palestra propomos uma análise winnicottiana com foco nas experiências de despersonalização apresentadas por Schreber. Nossa hipótese é que a memória por ele narrada se inscreve em sua experiência de corpo inimigo, irreal e perseguidor.

Conferencista:

Caroline Vasconcelos Ribeiro
Professora Titular da Universidade estadual do
Sudoeste da Bahia (UESB), membro colaborador do
Programa de Pós-graduação em Memória,
Linguagem e Sociedade
(PPGMLS/UESB). Psicóloga (UFSJ), Mestre em
Filosofia (UFPB), Doutora e Pós-doutora em
Filosofia (UNICAMP), sob a orientação de Zeljko
Loparic. Autora de diversos artigos que
apresentam o diálogo entre Heidegger
e Winnicott.
Membro do corpo docente do curso de
formação do IBPW.

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José Diogo Gonçalves

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